domingo, julho 11, 2004

 

Fable - G. Klimt

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Cassini: Ave Maria
Julian Lloyd Webber (cello)
The Royal Philharmonic Orchestra/James Judd



por Uther ás 03:30






terça-feira, julho 06, 2004

 

Bach: variações Goldberg

 

 

 
«A música é só música, eu sei. Não há
outros termos em que falar dela a não ser que
ela mesma seja menos que si mesma. Mas
o caso é que falar de música em tais termos
é como descrever um quadro em cores e formas e volumes, sem
mostrá-lo ou sem sequer havê-lo visto alguma vez.
Vejamo-lo, bem sei, calados, vendo. E se a música
for música, ouçamo-la e mais nada. No entanto,
nenhum silêncio recolhido nos persiste além
de alguns minutos. E não dura na memória como
o silêncio. Ou, se dura, esse silência cala
a própria música que adora. Porque a música
não é silêncio mas silêncio que
anuncia ou prenuncia o som e o ritmo.

Se os sons, porém, não são de devaneio,
e sim a inteligência que no abstracto busca
ad infinitum combinações possíveis bem que ilimitadas;
se tudo se organiza como a variada imagem
de uma ideia despojada de sentido;

se tudo soa como a própria liberdade dos acasos lógicos
que os grupos, e os grandes números, e as proporções
conhecem necessários; se tudo se repercute como
em cânones cada vez mais complexos que não desen-
volvem um raciocínio mas o transformam de um si mesmo em si;

se tudo se acumula menos como som que como pedras
esculpidas em volutas brancas e douradas cujos
recantos de sombra são um trompe-l'oeil
para que elas mais sejam em paredes curvas;

se uma alegria é força de viver e de inventar e de
bater nas teclas em cascatas de ordem;
e se tudo existiu na música para tal triunfo
e dele descende tudo o que de arquitectura
possa existir em notas sem sentido -- COMO
não proclamar que essa grandeza imensa não é
não se comove com íntimos segredos ( mesmo implica
que não haja segredo em nada que se faça
a não ser o espanto de fazer-se aquilo),
é como que uma cúpula de som dentro da qual
possamos ter consciência de que o homem é, por vezes,
maior do que si mesmo. E que nada no mundo,
ainda que volte ao tema inicial, repete
o que só foi proposto como tema para
se transformar no tempo que contém. Quando, no fim,
aquele tema torna não é para encerrar
num círculo fechado uma odisseia em teclas,
mas para colocar-nos ante a lucidez
de que não há regresso após tanta invenção.
Nem a música, nem nós, somos os mesmos já.
Não porque o tempo passe, ou porque a cúpula se erga,
para sempre, entre nós e nós próprios. Não. Mas sim porque
o virtual de um pensamento se tornou ali
uma evidência: se tornou concreto.

Um concreto de coisas exteriores -- e o espanto é esse --
igual ao que de abstracto têm as interiores que o sejam.
Será que alguma vez, senão aqui,
aconteceu tamanha suspensão da realidade a ponto
de real e virtual serem idênticos, e de nós
não sermos mais o quem que ouve, mas quem é? A ponto de
nós termos sido música somente?»

Bach: variações Goldberg, Jorge de Sena, Arte de Música (1966)





 

por Uther ás 18:44






domingo, julho 04, 2004

 

Monarch - W. Whitaker

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Massenet: Méditation (Thaïs)
Julian Lloyd Webber (cello)
The Royal Philharmonic Orchestra/James Judd



por Uther ás 06:56






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