quarta-feira, setembro 15, 2004

 

O Bravo "Téméraire" - William Turner

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O Bravo Téméraire, Rebocado até ao seu Último Ancoradouro para ser Desmantelado,
1838, Óleo sobre tela, 90,8 X 121,9 cm, Londres, National Gallery


"No tempo de Turner, a Inglaterra era a maior potência marítima da Europa tanto no que se refere à marinha mercante como à marinha de guerra. Em 1838, o navio-almirante de Nelson, o Téméraire, foi rebocado para a base naval de Sheerness, no estuário do Tamisa para uma doca privada onde seria desmantelado.


Nesta pintura, o Téméraire, em tempos uma glória da bravura britânica nas guerras Napoleónicas, é representado tendo em fundo um pôr do Sol de uma beleza quase entediante que confere ao casco e aos mastros do navio a translucidez fantasmagórica de uma aparição. Como um espectro daquilo que era, o grande navio de guerra embarca na sua viagem final; ou melhor, é rebocado, sem velas, para um fim ignominioso por um rebocador atarracado, sujo e sem qualquer laivo de grandeza. A glória passada da nação deu lugar à nova era tecnológica que daqui para a frente celebraria os seus triunfos em circunstâncias mais mundanas e anónimas.


Nesta fase da sua carreira, Turner combinava a fidelidade ao pormenor -- visível na descrição dos dois navios -- com uma considerável dissolução de forma no tratameno da atmosfera. O abrangente jogo de cores resultantes é levemente ameaçado pelos vermelhos-amarelados predominantes, que mostram que a beleza superficial da cena é ilusória.


John Ruskin, contemporâneo de Turner e seu defensor, exclamou acerca do fim do Téméraire que nunca mais o pôr do Sol voltaria a envolvê-lo nos seus mantos dourados nem o brilho das estrelas cintilaria nas ondas que deixava atrás de si enquanto deslizava pelos mares. Para lá da referência histórica, a atmosfera geral de «vanitas» na pintura, a favorita de Turner, tem sido interpretada como reflectindo os pensamentos do artista acerca do seu próprio envelhecimento e mortalidade. Devido ao contraste entre a relativa corporealidade das coisas em primeiro plano e o carácter vago das outras no reino aparentemente inacessível do fundo, o quadro tem sido visto como uma metáfora da última viagem da alma humana.


A tranquila harmonia da cor, se bem que rica em contrastes, faz desta tela um ponto alto do desenvolvimento de Turner. A polaridade básica de azul e amarelo, conforme descrita na teoria da cor de Goethe, parece aqui demonstrada nos fenómenos do Sol, das nuvens e do fumo que voluteia em direcção ao céu."

Norbert Wolf, A Pintura da Era Romântica





Chopin: Concerto for Piano and Orchestra nº 1 in E minor, op 11. - 2nd. Romance. Larghetto
Maria João Pires (piano)
Chamber Orchestra of Europe/Emmanuel Krivine




por Uther ás 04:40






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