sexta-feira, outubro 29, 2004

 

"Baco e Ariane" - Ticiano

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Baco e Ariane, Óleo sobre tela, 175 X 190 cm, 1520-23, Londres, National Gallery



"Jean Racine equivocou-se. O soberbo dístico que Fedra sussurra:

« Ariane ma soeur, de quel amour blessée
vous mourûtes au bord où vous fûtes laissés »

não corresponde à realidade. Abandonada na ilha de Naxos por Teseu, que tinha sido auxiliado por Ariane na luta contra o Minotauro, a filha do Rei Minos não permaneceu plangente durante muito tempo. É Richard Strauss, na sua ópera “Ariane em Naxos”, que tem razão: voltando de um dos seus périplos na Ásia, o deus Baco faz escala na ilha, descobre a bela desolada ainda a dormir, apaixona-se e acorda-a.

Não se resiste aos sentimentos de um deus, sobretudo quando este toma o diadema da donzela e o lança no céu, transformando-o numa constelação: a coroa boreal. Ariane rapidamente esquece Teseu para conhecer no Olimpo as faustosas bodas com o deus da videira. Posteriormente participa no cortejo das bacantes, ainda assim guardando alguma distância no seio de um séquito sofrivelmente indisciplinado.

Ainda que por vezes a vislumbremos ao lado do seu esposo no carro triunfal, os pintores privilegiaram o momento do encontro, assim que o cortejo de Baco desembarca em Naxos. Ariane pode então encontrar-se ainda adormecida, surpresa ao acordar, intimidada ou já conquistada. "

Marc Fumaroli, François Lebrette, la Mythologie gréco-latine





por Uther ás 04:42






terça-feira, outubro 12, 2004

 

Eurydice





[Eurydice]

(no seio do caos, ao largo do entendimento)

nos vastos e inóspitos desertos de cinzas
insinuam-se-me sombras em areias movediças
por entre inextinguíveis chamas a bruxulear
percorro, de vertigem em vertigem
os caminhos sulcados do reino de Hades
do abismo para o abismo, penetrando no gélido desígnio,
rumo à profundidade do desespero


[coro das dríades]

(abraçando o corpo inerte de Eurydice)

ao crepúsculo anuviou-se-lhe o olhar, murmurando sempre por Orpheu,
desejando ouvir, uma última vez, o canto perfumado da lira de ouro,
até esvair-se num sopro suave e silente.
— ó deuses veneráveis, infligi a vossa ira sobre Aristeu,
que perseguiu até à morte a filha de Zeus.
o amplexo selvagem ceifou o gesto de seda alvidúlcido.


[Eurydice]

ondulava a flor da tília
no último beijo à sombra do cipreste
não mais a dança das Náiades vestidas de lírios
não mais do crisântemo a suave carícia
não mais da crisálida o murmúrio
não mais da lira o dolcíssimo beijo

tudo em mim em vapor se desvanece
enquanto permaneço tecendo este fio de recordações.







por Uther ás 18:18






sexta-feira, outubro 08, 2004

 

"Cristo, Maria e S. João" - Ana Pinto

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Sergei Rachmaninov: Piano Concerto No.2 in C Minor, Op. 18: Adagio sostenuto
Arthur Rubinstein (piano)
The Philadelphia Orchestra/Eugene Ormandy




por Uther ás 01:14






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