terça-feira, outubro 12, 2004

 

Eurydice





[Eurydice]

(no seio do caos, ao largo do entendimento)

nos vastos e inóspitos desertos de cinzas
insinuam-se-me sombras em areias movediças
por entre inextinguíveis chamas a bruxulear
percorro, de vertigem em vertigem
os caminhos sulcados do reino de Hades
do abismo para o abismo, penetrando no gélido desígnio,
rumo à profundidade do desespero


[coro das dríades]

(abraçando o corpo inerte de Eurydice)

ao crepúsculo anuviou-se-lhe o olhar, murmurando sempre por Orpheu,
desejando ouvir, uma última vez, o canto perfumado da lira de ouro,
até esvair-se num sopro suave e silente.
— ó deuses veneráveis, infligi a vossa ira sobre Aristeu,
que perseguiu até à morte a filha de Zeus.
o amplexo selvagem ceifou o gesto de seda alvidúlcido.


[Eurydice]

ondulava a flor da tília
no último beijo à sombra do cipreste
não mais a dança das Náiades vestidas de lírios
não mais do crisântemo a suave carícia
não mais da crisálida o murmúrio
não mais da lira o dolcíssimo beijo

tudo em mim em vapor se desvanece
enquanto permaneço tecendo este fio de recordações.







por Uther ás 18:18


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