sexta-feira, dezembro 31, 2004

 


A Dedication to Bacchus

Sir Lawrence Alma-Tadema

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A Dedication to Bacchus (fragment)
Óleo sobre tela, 77.5 X 177.5 cm, 1889, Private Collection




"A ocorrência é a iniciação de uma criança Romana no culto de Baco. A luz do sol brilha através do dossel, projectando uma sombra violeta nas solenes figuras veladas do sacerdote e sacerdotisa enquanto aguardam pela criança defronte de um altar de mármore. Próximo, os músicos tocam címbalo, tíbia e tímpano. À esquerda do altar a criança aguarda com uma multidão de adoradores, incluindo quatro homens transportando um enorme odre de vinho para ser oferecido ao deus como libação.

F. G. Stephens realça que "A Dedication to Bacchus" nada tem a ver com as designadas "orgias brutais" descritas nas narrativas de Livy sobre o escândalo dos Bacanais de 186 AC. No cenário da iniciação, a religiosidade é certamente mais evidente do que o fervor Bacanal. Contudo, como se quisesse suavizar o assunto, Stephens escolheu ignorar o grupo de celebrantes cingidos de heras e agitando tímpanos que estão cortados na orla da tela. Como no "The Vintage Festival", o comportamento destas figuras indicia a festa selvagem descrita por Livy e sugere que, para além da cena imediata, uma Bacanal dissoluta está a ser disfrutada.

Uma bacante, vestida com uma pele de leopardo, ergue-se diante uma 'taça de prata', utilizada para misturar a oferenda do vinho com a água. Esta taça tem por base a famosa peça do tesouro de Hildesheim descoberto em 1868. Outra bacante, vestindo uma pele de tigre, acena um ramo decorado com flores de prata, uma campânula e uma fita. O cenário é o peristilo de um templo divisando o mar. Um friso no canto superior direito, representando a batalha entre lapitas e centauros, é uma cópia de um friso do templo de Apolo em Bassae, do século V AC (adquirido pelo British Museum in 1818).

Debaixo do friso ergue-se outro centauro, conhecido através de um número de cópias Romanas de mármore de originais Helenísticos em bronze. Como no quadro "A Sculpture Gallery", o artista joga com os caprichos das cópias e representa ou o original Helenístico ou uma imaginária cópia Romana em bronze. De qualquer forma, conseguiu eliminar o desagradável suporte no estômago da estátua, parte integral das cópias de mármore, ocultando esta porção da figura por detrás da cabeça do sacerdote. Na arte antiga, os centauros eram tradicionalmente descritos nas representações mitológicas como membros de uma 'thiasus' de Baco-Dioniso (grupo do séquito). Um exemplo de uma thiasus de sátiros e bacantes pode ser entrevisto no friso da balaustrada.

A estátua de pórfiro, no lado esquerdo da tela, é a de um homem a ajoelhar acendendo o lume de um braseiro. Existem grupos esculturais antigos semelhantes, de acendedores preparando o braseiro enquanto o animal sacrificado é trucidado. Juntamente com o friso da batalha, esta imagem lembra-nos a natureza violenta de certos aspectos do mundo antigo. Numa leitura inicial, "A Dedication to Bacchus" aparece como uma representação respeitável e ordenada de um ritual religioso antigo, mas numa inspecção imagística mais aproximada da sexualidade, as Bacanais revelam um lado mais violento e orgiástico da vida Romana.

Enquanto Alma-Tadema mantém um interesse no lado oficioso da vida Romana, a alusão à natureza selvagem do culto de Baco pode ter sido sugerida pelo proprietário da pintura: Schröder afinal possuia dez quadros de Alma-Tadema, alguns sobre Baco ou cenas de banho habitacionais, enquanto muitos outros da sua colecção ilustravam notoriamente temas eróticos, incluindo a pintura de Jean-Léon Gérôme "Phryne Before the Tribunal" (1861), revelando a famosa prostituta grega exibida nua perante um tribunal público.

Desde ostentosas procissões públicas até rituais domésticos modestos, Alma-tadema revela um vasto interesse na fértil diversidade que constitui a religião Romana. A maioria dos seus quadros religiosos mostram Bacanais. Apesar dos assuntos relativos a Baco-Dioniso serem populares entre os pintores, raramente envolviam a face irracional ou selvagem do ritual religioso — apresentada vividamente nas Bacantes de Eurípides, onde as ménades despedaçam o corpo de Penteu, membro a membro — e a pintura Inglesa inspirada em temas clássicos, no seu todo, tinha pouco interesse no lado negro dos mitos antigos e da religião.

A "Bacchante" de Leighton, mostra uma jovem encantadora a brincar com uma pandeireta enquanto estala os dedos, perante o olhar curioso de uma cria de cervo. Alma-Tadema, como Leighton, apresenta superficialmente uma versão suavizada das Bacanais, mas ao mesmo tempo deixa entrever o aspecto mais selvagem do ritual e do mito antigo. Na Europa Continental, as pinturas dionisíacas são frequentemente inspiradas por uma disposição preferencialmente selvagem e sexual, onde as mulheres, dotadas de uma ânsia atávica, folgam com os seguidores meio humanos de Dioniso. Até mesmo William Bouguereau, conhecido pelas suas ninfas e cupidos discretos, representa quatro beldades nuas assaltando um sátiro: “Nymphs and Satyr” (1873) ".

R.J. Barrow, “Lawrence Alma-Tadema”, Phaidon


por Uther ás 16:11


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