«Quando se ateia em nós um fogo preso
o corpo a corpo em que ele vai girando
faz o meu corpo arder no teu, aceso
e nos calcina
e assim nos vai matando
essa luz repentina até perder alento
e então é quando a sombra se ilumina
e é tudo esquecimento tão violento e brando
sacode a luz o nosso ser surpreso
e devastados, nós, vamos a seu mando
nessa prisão o mundo perde o peso
e em fogo preso, à noite, as chamas vão pairando
e vão-se libertando fogo e contentamento
a revoar num bando de beijos tão sem tento
que não sabemos quando são fogo ou água ou vento
a revoar num bando de beijos tão sem tento
que perdem o comando do próprio esquecimento.»
Vasco Graça Moura
Mísia: fogo preso
voz de Maria de Medeiros a partir do poema de Vasco Graça Moura
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